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Aqui cumpro uma das minhas missões: ser criativo pela escrita. Escreverei muito, sobre qualquer assunto que me der na telha... Sem nostalgia, mais sobre a minha infância e juventude em ANGOLA, o país onde nasci... Contudo, eu não vivo o passado, nem vivo no passado... EU VIVO O PRESENTE E NO PRESENTE! A verdade é que me deslumbro continuamente com as boas lembranças que trago na memória e esqueço de me ressentir das que nunca terei!
Viram que reduzi os meus textos a um único blog... Por que razão? Porque a missão superior de me expressar literariamente é única; vem de uma única fonte, um único despertar, embora muito díspar ou multifacetada, que tem por fim último manifestar as forças criadoras da vida como espelho natural da minha íntima essência sobre a qual procuro me erigir, criando em mim um estado silente de paz e maturidade. Assim, busco continuamente o meu aperfeiçoamento porque não me acho perfeito, mas sou infinitamente perfectível.
Aqui, me sinto profundamente seguro porque – como Clarice Lispector – assumo a consciência que “a palavra é meu domínio sobre o mundo”. Como ela, “enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever”, essencialmente, para encontrar em mim e não fora de mim a verdade que me faz ser teimoso em viver, que me faz caminhar com um sentido, pois sempre quis inventá-lo com a minha verdade. Por isso, e nada mais, nunca aceitei a limitação escravocrata de meramente sobreviver mediante uma “verdade inventada” por outros que pretendem tornar o meu existir passível de ter algum outro sentido, como se fosse fácil me alienar em marionete servidora de interesses inconfessáveis.
E, se você, caro leitor que contempla as minhas letras, as considerar fracas, banais e sem sentido? A essa pergunta resta responder fazendo minhas as palavras do nosso maior poeta-filósofo dos últimos tempos:
“Saber que será má a obra que se não fará nunca. Pior, porém, será a que nunca se fizer. Aquela que se faz, ao menos, fica feita. Será pobre mas existe, como a planta mesquinha no vaso único da minha vizinha aleijada. Essa planta é a alegria dela, e também por vezes a minha. O que escrevo, e que reconheço mau, pode também dar uns bons momentos de distração de pior a um ou outro espírito magoado ou triste. Tanto me basta, ou me não basta, mas serve de alguma maneira, e assim é toda a vida”.(Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, 14). “Conquistei, palmo a pequeno palmo, o terreno interior que nascera meu. Reclamei, espaço a pequeno espaço, o pântano em que me quedara nulo. Pari meu ser infinito, mas tirei-me a ferros de mim mesmo”.(Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, 15).
Aqui, procuro tirar-me “a ferros de mim mesmo”, parir meu “ser infinito”, conquistar “palmo a pequeno palmo, o terreno interior que nascera meu”... Quero aqui cultivar a “planta mesquinha no vaso único”da minha essência vizinha para doar-vos, a vós leitores, “uns bons momentos de distração”, o que “tanto me basta”... De vez em quando, jogo aqui uma pedra no pântano da minha zona de conforto que sempre tenta a quedar-me nulo.
Este é o meu exercício contra a solidão; para mim, esta tem pouco a ver com o número de pessoas que me rodeia, pelo contrário, só depende da minha distância de mim mesmo. A minha alma de tímido só consegue se libertar na solidão da escrita. Sempre fui assim. Eu sou a melhor companhia de mim próprio quando escrevo. Todos os que comigo conviveram pessoalmente sabem que sou sincero nisto. Gosto de ficar só... Confesso que normalmente sou tímido e introspectivo porque tenho medo de ser submergido pelo amor excessivo dos outros. Desculpem eu ser eu! Sou bem esquisito, a ponto de eu próprio me achar estranho! Você vai aprender a respeitar-me ao ler-me, porque foi pela escrita que eu me vi obrigado a me respeitar. A escrita é para mim uma catarse – do grego “kátharsis"= "purificação" – limpeza pessoal dos demônios internos e externos que querem me derrubar... Quando esses entes maléficos dão a entender que não há lugar para mim na terra dos homens, onde me converto em ser que nem mesmo eu me suporto, então, por sobrar sozinho, busco refúgio na novidade criativa da escrita, na cascata silenciosa de palavras sempre novas, com quem posso conversar sem contar os minutos... Com elas e por elas, simbolicamente, morro e renasço sucessivamente...
Seja em prosa ou verso, escrevo muito do passado. Já houve pessoas que me escreveram para me chamar a atenção de que isso pode ser prejudicial para mim, me impedir de viver bem no presente e no futuro. Refleti muito sobre isso e cheguei à mesma conclusão de Albert Einstein: “a distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente”. Em particular, sobre o meu passado angolano, eu sinto sem saudosismo que “o que passou, passou, mas o que passou luzindo, resplandecerá para sempre”(Johan Goethe). Portanto, a luz que um dia se acendeu em mim continua em mim. É presente e não passou, antes, permanece para sempre.
Claro que a vida só se vive para diante, mas só se compreende mediante um retorno ao passado, como salientou Soren Kiergaard. Que mal há em recordar o que de melhor existiu na minha vida passada? Com isso consigo compreender o que de melhor há em mim. Então, que mal há nisso?
Concentro atenção e máximo cuidado em lembrar o passado com gratidão, para que possa alegrar-me com o presente e encarar o futuro sem medo, numa visão bem epicurista de obter estados moderados de prazer, tranquilidade e libertação. Isso é vida e beleza e o que é vivo e belo em nós não se perde, porque a vida vai sempre em frente para a eternidade. Não lembro o passado com saudade e melancolia, porque tudo o que fui mais puro de mim no passado prossegue em mim. Como dizia Marguerite Yourcenar, “quando se gosta da vida, gosta-se do passado, porque ele é o presente tal como se sobreviveu na memória humana”. Não sou nada dado a saudades e melancolias! Quiçá, por isso nunca quis voltar a Angola desde que saí de lá, em 1975, apesar de ter tido alguns convites para fazê-lo...
O grande pai da psicologia Carl Gustav Jung disse que “a vida é a história de um inconsciente que se realizou”. É bom escrever sobre o passado como se fosse um romance, porque o verdadeiro historiador é o romancista do passado e não um simples colecionador de datas e documentos. Como disse Goethe, a melhor maneira de se livrar do passado é escrever a sua história. Um dia cada um de nós será apenas uma memória longínqua... É importante alguém escrever a história de S. Jorge do Catofe, em crónicas e narrativas. Muitos descendentes de catofianos, senão, os próprios, se edificarão com esses escritos porque, como diz Isaiah Berlin, em “Uma Mensagem para o Século XXI”:
“Somente os bárbaros não têm curiosidade em saber de onde vieram, como chegaram a ser o que são, aonde parecem estar indo, se desejam rumar nessa direção e, se querem, por quê, e, se não, por que não”.
Só os defensores da barbárie, a que grassou nas savanas do Catofe em 1975, os mercadores da morte e do medo, podem ter interesse em que não se fale das coisas belas que os açorianos ali erigiram como um marco para a eternidade. Os descendentes dos Catofianos – açorianos do Catofe – sentirão muito orgulho e altivez pelos feitos dos seus antepassados e verificarão nas suas próprias vidas, na Europa ou na América, que o seu futuro mais brilhante está alicerçado num passado intensamente vivido em terras feiticeiras de África.
Será que os meus escritos sobre o Catofe evocarão perdas que penalizarão alguns catofianos? Eu penso que não. Sobre as perdas materiais, eu tenho verificado que praticamente todos os catofianos adotaram uma visão filosófica bem estoica.
Aos amantes do “politicamente correto”, que leem os meus rabiscos com olhar crítico de condenação, devo responder que ser feliz me absorve totalmente, por isso, não tenho tempo para mais nada. Essa a explicação para o bloqueio aos comentários de leitores. Certamente, encontrarão o meu e-mail nas tertúlias da internet, porém, desde já advirto, quaisquer críticas ou agressões serão apagadas imediatamente, portanto, não merecedoras de qualquer resposta. Respeito todas as opiniões, por isso, não me interesso por discutir opiniões; na filosofia de Fernando Pessoa, de quem sou um deslumbrado admirador, “ter opiniões é não sentir”e “sentir é criar”, “sentir é pensar sem ideias, e por isso sentir é compreender, visto que o Universo não tem ideias”. Em conclusão, só escrevo sobre o que sinto e só quero receber escritos de quem sente e compreende o Universo comigo.
Um grande abraço do
2 comentários:
Isto não é na lagoa do rio Catofe? Em caso de afirmativo, aprendi a nadar aqui fora da epoca dos jacarés. Pois claro.
Não, não se trata da lagoa do Catofe, num riacho afluente do Rio Catofe, onde havia também um moinho que era a menina dos olhos do saudoso Velho João da Luz, que muito sofreu também com as nossas diatribes. Trata-se de um banho em 1959/60 no riacho que atravessava a pequena fazenda do homem mais alto do Catofe, com 2,00m, o meu tio Arnaldo Silveira Coelho.
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