domingo, abril 27, 2008

SOMOS TODOS AFRICANOS

Apartheid de Aldemir Martins
A Genética trouxe a grande revolução das técnicas de manipulação do DNA há pouco mais de 20 anos. Atualmente, estão identificados 35 tipos de DNA mitocondrial que derivaram dos 3 originais da população base de toda a humanidade. É isso mesmo, apesar da imensa diversidade do gênero humano com múltiplos grupos e etnias, estes derivaram de uma população base – com as características do Homo Erectus – com apenas três tipos principais de DNA.

As conclusões proporcionadas pelos estudos do DNA deram maior razão e consistência à Teoria Monocêntrica que explica a origem dos vários grupos humanos. Esta teoria afirma que o homem atual teve a sua remota origem num único território, entre a Ásia Central/Meridional e o Nordeste Africano, com maior tendência para a gênese africana.

Já, a Teoria Policêntrica defende que a formação do homem atual se deu em várias regiões independentes e isoladas entre si, pois afirmam que existem semelhanças entre as características dos vários grupos humanos atuais e dos grupos humanos que existiram no passado, tais como o Homem de Java, o Homem de Pequim, o Homem da Rodésia e o Homem de Neanderthal. Portanto, a Teoria Policêntrica diz que os grupos humanos são diferentes uns dos outros e têm um passado evolutivo diferente, em territórios diferentes.

Efetivamente, a partir da descoberta do DNA, só a Teoria Monocêntrica se apresenta cientificamente consistente e credível.

Noah Rosemberg e Jonathan Pritchard realizaram pesquisas de DNA, na Universidade de Stanford, com 52 grupos étnicos da África, Europa, Ásia, e Américas e concluíram basicamente o seguinte: 1) os 52 grupos podem ser organizados em cinco grupos cujos ancestrais estiveram isolados por desertos extensos, oceanos ou montanhas de muito difícil transposição durante milhares de anos; 2) os cinco maiores grupos da espécie humana são os africanos da região subsariana, os asiáticos orientais, os europeus e asiáticos a leste do Himalaia, os povos da Nova Guiné e Melanésia e os indígenas das Américas; 3) os habitantes do sul da Índia têm características comuns tanto a europeus como a asiáticos como resultado da miscigenação de habitantes dessas duas origens; 4) só é possível identificar indivíduos com grande similaridade genética quando descendentes de povos que se mantiveram circunscritos a certa região por barreiras geográficas que impediram a miscigenação em milhares de anos. Realmente, os estudos recentes de Rosemberg e Pritchard só dão razão à frase de Robert Clarke: “somos todos mestiços e sê-lo-emos cada vez mais”.

Ainda, antes das técnicas do DNA, há cerca de trinta anos, o geneticista Luca Cavalli-Sforza realizou uma investigação científica com centenas de grupos étnicos espalhados pelo mundo e, com base em estudos genéticos e paleontológicos, concluiu que os nossos antepassados comuns emigraram da África para a Europa há escassos cem mil anos. Esses primeiros Homo Sapiens Sapiens só atingiram o norte gelado da Europa há cerca de 40 mil anos.

Para o cientista Diop, a raça branca – leucodérmica – representada na sua origem pela população de Cro-Magnon surgiu somente num período que se situa entre 15 e 25 mil anos atrás, tendo se restringido inicialmente à Europa. No que se refere à raça amarela dos ancestrais dos asiáticos sino-nipônico-mongóis, e representada pela população de Chancelade, teria surgido ainda mais recentemente: 12 a 20 mil anos atrás. Nesse caso, a cor negra teria sido, de maneira concreta, a “cor-referente” a partir da qual se estruturariam as variações de pigmentação entre humanos. Ou seja, o isolamento da espécie humana permitiu o desenvolvimento de acentuadas diferenciações conforme a necessidade de adaptação imposta pelas mais variadas condições geográficas.

Assim, hoje, o mundo científico tem quase a certeza absoluta de que: a) o gênero humano surgiu somente no continente africano, há cerca de 3 milhões de anos; b) a humanidade anatomicamente mais evoluída surgiu, também, exclusivamente no continente africano, entre 150 e 200 mil anos atrás; c) o Homo Sapiens Sapiens migrou para fora do continente africano, pela primeira vez, para povoar o resto do planeta, entre 80 e 100 mil anos atrás; d) embora sem comprovação definitiva, a pigmentação dos primeiros Homo Sapiens Sapiens dificilmente pudesse ter sido outra senão melanodérmica (pele escura).

A maior descoberta sobre as alterações da pigmentação da espécie humana ocorreu precisamente no ano de 2007. Foi identificado o gene SLC24A5 que foi provavelmente o responsável pelo aparecimento e transmissão da pele branca européia. O grupo de pesquisa de Keith Cheng estudou também a seqüência do referido gene em europeus, asiáticos, africanos e indígenas americanos; ao tomar por base o número e a periodicidade das mutações ocorridas, concluíram que as condições genéticas responsáveis pelo clareamento da pele se estabeleceram nos povos europeus num período que se situa somente entre 6 mil e 12 mil anos, atrás.

Para você que me lê, se julga ter alguma vantagem ou direito adicional pela cor da sua pele, em relação a pessoas que comungam do seu convívio ou do seu país, então, só posso dizer: “você é um cabeça de teta!”

Finalmente, haverá porventura razão para expressões como “angolano genuíno”, “branco de segunda” e “raça superior”? O amor que alguém dedica à sua Pátria poderá ainda ser relacionado com a melanina que exibe? Como isso é possível, se a melanina não é incorporada ao cérebro?

Um grande abraço do

Kabiá-Kabiaka, a quem o meu pai no meio dos seus devaneios com vacas leiteiras resolveu colocar o pomposo nome de Lúcio Flávio da Silveira Matos.