quinta-feira, junho 23, 2005

DA ILHA DA MAGIA À TERRA FIRME: no princípio...

A costa atlântica da Ilha da Magia.
Proponho-me começar a escrever-vos sobre a epopéia açoriana no Sul do Brasil. Desde a Ilha de Santa Catarina, hoje conhecida pelos turistas como Ilha da Magia, onde se situa Florianópolis, a capital do Estado de Santa Catarina, aos diferentes lugares da terra continental, outrora denominada pelos colonizadores como Terra Firme. Falar-vos-ei de um Brasil, de ontem e de hoje, cuja grandeza muito deve aos nossos antepassados que “deram novos mundos ao mundo”.
Para que o tema seja devidamente situado no espaço e no tempo, se torna absolutamente necessário recordarmos as origens dessa grande odisséia. As seculares causas da emigração açoriana são muitas vezes olvidadas, portanto, é bom irmos lá atrás e meditarmos como tudo começou.
O arquipélago dos Açores, desde a sua descoberta e colonização no século XV, foi eleito pelos reis de Portugal como um celeiro no meio do Atlântico, daí a sua tradicional vocação para a agropecuária. Nos Açores se reabasteciam as caravelas, nas suas rotas para as Américas do Sul e do Norte e para a África e Índia. Assim, o sonho de todo o habitante das nossas nove ilhas sempre foi ter o seu quinhão de terra para cultivar e criar o seu gado. O trigo era o principal produto agrícola do arquipélago na época dos descobrimentos marítimos, conforme asseveram diversos documentos históricos.
Nos séculos XVII e XVIII, ou seja, duzentos e trezentos anos após o povoamento das ilhas, os açorianos conheceram sucessivas crises na agropecuária, como resultado da conjunção de dois fatores fundamentais: 1) o poder absoluto dos capitães donatários, que distribuíram a terra de forma discricionária, interferindo de forma injusta na doação de sesmarias e deixando muitas famílias com pouca terra, enquanto uns poucos amigos viraram grandes proprietários; 2) o esgotamento da fertilidade do solo, que ocasionou um excedente de mão-de-obra desempregada e fez com que o pouco trigo produzido fosse encaminhado pelos comerciantes locais para a exportação, visando um maior lucro do que o conseguido localmente. Outros fatores menores, mas também importantes, contribuíram nessa época para a crise. Quando do povoamento das ilhas, a legislação das sesmarias garantia a existência dos baldios ou terras de uso comunitário, que eram utilizados pelos lavradores mais pobres para a criação de gado miúdo, coleta de frutas silvestres e corte de lenha. Ora, chegada a crise, o provedor da Fazenda Real, fazendo uso duma legislação do tempo da ocupação espanhola, propôs acabar com os baldios e passá-los às mãos de empresários agrícolas, com maior capacidade de investimento do que o poder público. Além disso, à época, houve várias catástrofes naturais que recorrentemente, ainda hoje, acontecem nos Açores: secas, pragas, tempestades, abalos sísmicos e erupções vulcânicas. Por exemplo, em fevereiro de 1718, a Ilha do Pico foi muito destruída por um vulcão.
Quando havia crise económica e escassez de alimentos, as autoridades açorianas vendiam a idéia de que o problema era de excesso de população, para evitar alterar a estrutura agrária, e apelavam para a solução da emigração dos mais pobres, para um Novo Mundo a colonizar. Alguns nobres também viam na emigração a oportunidade de expandir o seu poderio, conquistar terras que lhes dessem novos títulos de nobreza ou de recuperar o domínio perdido, em caso de decadência. Para outros, em número muito reduzido, somente clamava mais forte no âmago o eterno convite da visão do infinito e da aventura, eternizado poeticamente por Vitorino Nemésio: “O que dá este espírito errante ao ilhéu senão o mar? O ilhéu duvida. Mas o mar está ali. Essa é que é a verdadeira força”.
Enquanto isso, em terras brasileiras, a Coroa Portuguesa disputava a posse da terra contra os espanhóis, ao sul, e contra os holandeses e franceses, ao norte, fazendo valer a estratégia de povoar antecipadamente as terras em litígio. A colonização de base estável garantiria a ocupação económica e militar efetiva e viabilizaria a estratégia de fazer valer em ulteriores negociações diplomáticas com os nossos rivais o princípio do uti possidetis“quem povoa domina”, à revelia do Tratado de Tordesilhas. No sul do Brasil a prioridade era o povoamento desde o Rio de Janeiro até à foz do rio da Prata, pois por este era escoada a prata explorada pelos espanhóis no Peru. Neste contexto, a Ilha de Santa Catarina, localizada a meio caminho entre o Rio de Janeiro e a embocadura do Prata, assumia relevância estratégica vital para os interesses portugueses. Assim, estavam criadas, Aquém e Além-Mar, as condições para El-Rei D. João V lavrar em seu edital de 1746, enviado ao corregedor das ilhas dos Açores: “D. João, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves d’Aquém e d’Além-Mar em África Senhor da Guiné &, faço a vós saber que os casais de pessoas que quiserem ir para o Brasil, o transporte será às custas da Minha Real Fazenda”.
Até mais ver!
Kabiá-Kabiaka, a quem o meu pai resolveu denominar tão eruditamente, em meio às etiquetas e respeitabilidades das suas vacas leiteiras, na savana do Catofe, de Lúcio Flávio da Silveira Matos.

O Centro de Florianópolis.

sábado, junho 18, 2005

HOMENAGEM A NEVES E SOUSA


Quimbanda (feiticeiro) Chipalanca
por Neves e Sousa
Posted by Hello





ANGOLANO



Ser Angolano é meu fado, é meu castigo...
Branco eu sou e, pois, já não consigo
mudar jamais de cor ou condição...
Mas, será que tem cor o coração?
Ser Africano não é questão de cor,
é sentimento, vocação, talvez Amor.
Não é questão nem mesmo de bandeiras,
de língua, de costumes ou maneiras...
A questão é de dentro, é sentimento,
e nas parecenças de outras terras,
longe das disputas e das guerras,
encontro na distância esquecimento!

Autor: Neves e Sousa (Pintor e Poeta Angolano,
refugiado na Bahia-Brasil, a partir de 1975, tendo aqui falecido em 1995).

"Raça é menos um fato biológico do que um mito social e, como mito, causou severas perdas de vidas humanas e muito sofrimento em anos recentes".
(Primeira Declaração sobre Raça da Unesco, 1950).

quarta-feira, junho 15, 2005

COBRAS NA SAVANA...















Ponte provisória sobre o rio Catofe.




Catofe à vista... Perigo de cobra!

POR QUE É QUE A COBRA MUDA DE PELE?

Ser cobra é bom ou é mau? É verdade, existem mesmo muitas controvérsias acerca da melhor resposta à questão proposta. Sobre este assunto tão difícil, seria caso mesmo de consultar o ex-futebolista Dadá Maravilha e ele certamente chutaria o seu bordão mais característico: “se você tem a problemática, então, eu tenho a solucionática”... Mas, já que o Dadá não me revelou a sua "solucionática", vamos aqui fazer algumas considerações acerca dum tema tão instigante.
Quanto a mim, eu nunca tive muito medo desses bichos considerados peçonhentos pela esmagadora maioria das pessoas. Antes, sempre tive um fascínio mórbido por cobras. Lembro-me perfeitamente duma experiência bem marcante, nos meus tenros, mas bem ousados, cinco anos de idade. A nossa família, constituída por pai, mãe, cinco filhos e dois avós maternos, vivia numa casa de paredes de adobe rebocadas, piso cimentado e telha cerâmica tipo Marselha, na povoação do Kuanza Sul que os colonizadores açorianos convencionaram chamar de S. Jorge do Catofe, a cerca de 350km de Luanda e 250km do Huambo, em Angola. Mais tarde, quando eu já tinha quinze anos, mudamos para uma casa, que se dizia mais moderna; esta tinha paredes de tijolo cerâmico e telhas de fibrocimento. Era quente pra caramba e me fazia sentir saudades daquela primeira casa bem adaptada ao clima tropical. Realmente, a
“casa velha” – como lhe chamávamos – foi convertida em depósito de rações para gado e outras quinquilharias, todavia nunca ousamos chamar-lhe armazém ou coisa no gênero, pois sempre a sentíamos como a nossa casa, como se algum de nós projetasse um dia voltar a morar nela. Ora bem, a “casa velha” tinha uma arquitetura colonial simplificada, com uma varanda a todo o comprimento, na frente, o corpo central com a sala e três quartos, sem qualquer corredor entre os compartimentos, ao melhor estilo comboio, no meio, e uma varanda atrás, entre a casa de banho e a cozinha. Um dia, como sempre fazíamos, estávamos a tomar o “matabicho” (café da manhã ou pequeno almoço) nesta varanda da retaguarda, quando três ou quatro empregados da casa entraram em grande polvorosa porque tinha aparecido uma cobra no limoeiro que havia ali perto, a uns vinte metros de casa. E vai de jogar pedra e pau e tudo quanto encontraram para matar o indesejado e temido bichinho. Logo, entendi que os africanos geralmente tinham um grande pavor de cobras, o que para mim era absolutamente incompreensível. O meu espanto foi maior quando verifiquei que, mesmo depois de morta, eles não ousavam pegar na cobra com a mão e procuraram jogá-la com o auxílio de paus no meio do mato, que se mostrava soberano, ali bem perto, já a cinqüenta metros, atrás de casa. Eu fiquei de olho bem aberto, enquanto belas idéias e planos perpassavam vertiginosamente a minha mente. Assim, logo de manhã, após morto o bicho do estômago, resolvi partir para a ação e cuidar do outro bicho já mais que morto e jogado no meio do mato.
Foi fácil achar aquela cobra encantadora de cor amarelo-esverdeada. Peguei-a heroicamente com as minhas tenras manápulas, pelos fagotes, logo, ali atrás da cabeça, e lá vou com ela, qual Rei N’Gola Kilwange destemidamente de espada em riste, a dar execução ao meu plano já solidamente elaborado, enquanto tinha saboreado o meu desjejum matinal. Claro, a vítima tinha que ser o Aníbal! No dia anterior, ele tinha-me repreendido por ter derrubado a pontapé as
quindas (balaios africanos de forma cônica) das clientes da loja e, portanto, agora, estava em perfeitas condições de demonstrar para ele que “a vingança é um prato que se come frio” e bem frio, tão frio como cobra morta. Vale aqui dizer que o meu pai Vicente Matos, batizado pelos kibalas como Kilamba, tinha negócios que incluíam criação de gado leiteiro e comércio, em sociedade com o mais-velho Kimbaça (gordo, em Kimbundu; nome dado ao Sr. Emílio Dias, um dos três pioneiros do Catofe, juntamente com o Sr. João de Oliveira e o Sr. André de Oliveira) e o mais-velho João do Catofe (João de Oliveira). O Aníbal era o funcionário da loja de comércio e também era afilhado de batismo do mais-velho João do Catofe. Era um rapaz mestiço de pouco mais de vinte anos, com habilidades artísticas inexploradas, pois um dia o meu avô mostrou-lhe uma figura desenhada de Luís de Camões e ele moldou um busto do poeta que encheu os olhos de todos os que tiveram a oportunidade de admirar a obra-prima. Pois bem, foi exatamente este Aníbal habilidoso que eu resolvi homenagear com a cobra morta que busquei no mato. Invadi a casa dele sem qualquer mandato judicial, no melhor estilo revolucionário que vi ser imitado mais tarde por outros, em 1975, sem poder cobrar direitos de autor; coloquei muito carinhosamente a cobra, bem aconchegadinha, no meio dos lençóis da cama do meu desafeto Aníbal. Voltei a casa, verifiquei que ninguém tinha dado pela minha façanha e voltei à rua para brincar despreocupadamente, tendo o cuidado de passar na frente da loja e olhar lá para dentro diretamente na cara da minha nova vítima, deliciando-me já com o aspecto que ela tomaria mais tarde, quando ele chegasse a casa e levantasse os lençóis para o tão ambicionado descanso. E ocorreu o que realmente imaginei! Logo após o pôr-do-sol, como habitualmente, cerca das 18h30, estava toda a família a fazer a última refeição, quando ouvimos uma grande gritaria e aparece o Aníbal esbaforido: “Patrão, patrão, vem depressa, vem matar uma cobra que está na minha cama...”. Lá foi o Kilamba Vicente, com a coragem que Deus lhe deu e o seu diminuto estado-maior, tentar matar a cobra que estava na cama do Aníbal. Na volta, o meu pai vinha sorrindo, logo olhou diretamente nos meus olhos e exclamou: “Vê-se logo que foste tu!” Escapei duma surra, pelo caricato da situação... Moral da história: já na minha tenra infância, cobra era uma coisa boa para mim, todavia era muito má na visão dos meus amigos kimbundus.
Mais tarde, já na entrada da adolescência, com treze anos, eu fiz questão de demonstrar as minhas habilidades de matador e manipulador de cobras. Matei uma cobra e resolvi correr com ela atrás dos funcionários da casa. Que cena misturada de terror e hilaridade! Todavia, quando entrei na sapataria, bem embaixo da casa do mais-velho
Kimbaça, na frente da minha, levei a pior, pois o sapateiro resolveu fugir lá de dentro à medida que atirava sapatos e martelos que por pouco não acertaram a minha cabeça... Nunca entendi essa síndrome do pânico que os kibalas da minha savana tinham por cobras mortas, por isso, tão inofensivas...
Quando cheguei ao Brasil, em 1987, ouvi os meus colegas de mestrado referir-se a determinado professor:
“o cara é cobra no assunto!” Entendi que eles queriam dizer que o professor era extremamente competente na sua área de ensino e pesquisa. Portanto, para os brasileiros, em alguns aspectos, ser cobra era uma coisa muito boa. Talvez, por isso, eles se refiram a quem apresenta notória masculinidade, na relação com o sexo feminino, ou coragem, em situações críticas, com a expressão “mata a cobra e mostra o pau”.
Agora, me lembro que na minha juventude dizíamos que o desejo de todo o homem era
“ter uma mulher que fosse uma cobra na cama”. Nesta situação, os brazukas têm razão quando dizem que o homem é o que “mata a cobra e mostra o pau”. Entendeu tudo, caro leitor, que nesta situação a cobra só pode ser coisa boa... Eu já entendi isto com treze anos, quando a lavadeira Maria Kambuta (Maria Baixinha) resolveu abusar de mim, num dos intervalos dos serviços que ela ia lá a casa prestar para a minha mãe. A minha mãe, a quem nos meus bem divertidos quatro anos homenageei com o título "Capitão da Malta", vai ficar estarrecida e petrificada quando ler esta minha inconfidência escrita e pública... Ela bem conhece o filho que (não) criou... Quando estávamos a fazer alguma traquinice, ao ver a minha mãe, eu dizia para o meu irmão: “Ó Zeca, vamos fugir! Chegou o Capitão da Malta!” Bazávamos em duque na esgalha (expressão angolana que quer dizer ‘os dois fugíamos em correria’). Fiquei muito traumatizado com a experiência que tive com essa cobra viva – a Maria Kambuta – porém resolvi perdoar-lhe imediatamente e absorvi introspectivamente que só poderia resultar coisa boa se eu aprofundasse as minhas habilidades em lidar com este, para mim, inusitado tipo de cobras. Convém confessar que continuo tentando e aprendendo!... Portanto, não sou ainda um expert em cobras. Recuso-me a prestar consultoria neste tão nobre ramo do conhecimento.
Neste campo, eu vou agora contar uma história real. O velho Machado com cerca de sessenta anos tinha chegado ao Catofe da sua
“santa terrinha”, ou seja, da ilha de S. Jorge, nos Açores. O José Teixeira, como bom anfitrião e com sólidos conhecimentos zoológicos da região, resolveu servir de cicerone e levar o dito velho na sua motorizada para dar-lhe a provar o abençoado veneno das cobras de Angola. Dizia-se que quem provava desse mágico veneno nunca mais esquecia e jurava repetir a experiência, vezes sem conta. Então, lá foram os dois na burra de 50cc a caminho da Quibala, que ficava a 15 km para norte. No meio do caminho, surgiu uma ótima oportunidade, ali bem no meio do mato, ao lado da estrada. No fim da experiência, eis que surge o velho Machado visivelmente inebriado e trava-se entre os dois caçadores de cobras o seguinte diálogo:
-
Então, como foi? Perguntou o José Teixeira.
-
Oh paz, paguei vinte esquiudos mas gostei! Devolveu o velho Machado. E ela guinchava debaixo de mim... Oh paz, ela ia me matando... O que vale é que os gravetos eram miúdos, mas se fossem grados, oh paz, ela tinha me matado! Sim senhor, paguei vinte esquiudos, mas gostei... Oh, ti Jezé, o home não sabe o home que tá qui! Oh, ti Jezé, entã, o home não sabe o home que tá qui!
Pelo diálogo relatado em bom ‘açorianês inhameiro’, vê-se que o velho Machado, a partir daquela data, ressuscitou em África para uma vida nova e passou a ser, se já não era ele, na verdadeira acepção da expressão brazuka, um homem que “mata a cobra e mostra o pau”. Portanto, neste capítulo, de cobra só vem coisa boa. É o relato do que podia fazer a um bom velhinho o verdadeiro “pau de Cabinda”, o afrodisíaco natural angolano que nunca foi suplantado pelo neófito e artificial Viagra... Refira-se que o primeiro não tem efeitos colaterais, ao passo que a versão laboratorial pode causar até cegueira, segundo ouvi noticiar ultimamente na televisão. A rematar, podemos afirmar com absoluta segurança que, se o velho Machado tivesse vivido mais uns anos e vindo parar às terras brasileiras, até, poderia ter dado a sua contribuição a Roberto Carvalho e Arnaldo Jabor para a canção “amor e sexo” de Rita Lee:

Amor é um livro, sexo é esporte
Sexo é escolha, amor é sorte
Amor é pensamento, teorema
Amor é novela, sexo é cinema
Sexo é imaginação, fantasia
Amor é prosa, sexo é poesia.


Talvez, por causa dos argumentos apresentados anteriormente a favor de certo tipo de cobras, é que os iorubas da Nigéria costumam esculpir uma grande cobra sagrada enrolada em cima de tampas de tigelas de madeira, pois esta cobra é um símbolo da vida e da eternidade. Portanto, para os iorubas, contrariamente aos meus conterrâneos kibalas, a cobra pode ser boa. Para os iorubas, a cobra sagrada tem um papel de protetora e não de rival do homem; é guardiã das regiões sagradas ou do Reino dos Mortos, um animal com alma, um símbolo de fecundidade sexual – masculino e feminino, simultaneamente, em razão da sua forma fálica e do seu ventre – e símbolo da renovação permanente da vida, porque tem a capacidade de trocar de pele.
Mas, ainda não respondemos à pergunta do título:
Por que é que a cobra muda de pele?
Não tenho base científica para responder à pergunta, por isso, acredito na seguinte lenda africana:

No princípio a morte não existia. A Morte vivia com Deus, e Deus não queria que a morte entrasse no mundo. Mas a Morte tanto pediu, que Deus acabou concordando em deixá-la partir. Ao mesmo tempo fez Deus uma promessa ao Homem: apesar da morte ter recebido permissão para entrar no mundo, o Homem não morreria. Além disso, Deus prometeu enviar ao Homem peles novas, que ele e sua família poderiam vestir quando seus corpos envelhecessem.
Deus pôs as peles novas num cesto e pediu ao cão para levá-las ao Homem e sua família. No caminho, o cão começou a sentir fome. Felizmente, encontrou outros animais que estavam a celebrar uma festa. Muito satisfeito com a sua boa sorte, o cão pôde assim matar a fome. Depois de haver comido fartamente, dirigiu-se a uma sombra e deitou-se bem regalado para descansar. Então, a cobra esperta aproximou-se dele e perguntou o que é que havia no cesto. O cão disse-lhe o que havia no cesto e porque estava levando as peles para o Homem. Minutos depois o cão caiu no sono. Então, a cobra, que tinha ficado por perto à espreita, apanhou o cesto de peles novas e fugiu silenciosamente para o mato.
Ao acordar, vendo que a cobra tinha roubado o cesto de peles, o cão correu até ao Homem e contou-lhe o que acontecera. O Homem dirigiu-se a Deus para lamentar o ocorrido e solicitar que Ele obrigasse a cobra a devolver as peles. Porém, Deus respondeu ao Homem que não retiraria as peles da cobra e que o ser humano passaria a morrer quando ficasse velho. Desde esse dia o Homem passou a ter um ódio mortal à cobra, e sempre que a vê procura matá-la. A cobra, por seu lado, sempre evitou o homem e sempre viveu sozinha. E, como ainda possui o cesto de peles dado por Deus, pode trocar a pele velha por outra nova sempre que necessário.

O imaginário desta lenda africana está muito próximo da cultura judaica dos templos bíblicos, que apresenta a cobra como um animal impuro e como a imagem original do pecado. Todavia, não se pode olvidar o episódio ocorrido quando os israelitas foram castigados pela sua desobediência no deserto com uma praga de cobras venenosas e aladas; então, Moisés esculpiu a “serpente de bronze” para ser contemplada pelos desobedientes, que viam assim saradas as mordidas mortais e restituída a sua vida. Esta “serpente de bronze” dos tempos mosaicos, devido ao seu poder benéfico, foi até adotada pelos cristãos dos tempos apostólicos como o primeiro símbolo de Cristo.
Agora, aqui, para nós que ninguém nos ouve, esta capacidade que a cobra tem de mudar sucessivamente de pele faz dela um ótimo símbolo para a esmagadora maioria dos políticos do nosso atual espaço lusófono, seja no Brasil, em Portugal ou em Angola, onde muitos têm uma facilidade incrível de mudar o discurso, porém permanecendo com as mesmas ações em detrimento do povo mais sofredor. A analogia é mais apropriada para os órfãos de Marx e Lênin que têm agora um discurso travestido de social-democracia, mas continuam a praticar as velhas e sórdidas ações stalinistas contra os seus críticos e adversários, desaparecendo estes muitas vezes sem deixar um efêmero rastro de cobra...
Até mais ver!
Kabiá-Kabiaka,a quem o meu pai resolveu denominar tão eruditamente, em meio às etiquetas e respeitabilidades das suas vacas leiteiras, na savana do Catofe, de Lúcio Flávio da Silveira Matos.

domingo, junho 12, 2005

SOLUÇÃO=UNIDADE+TRABALHO


Trabalho na roça de café, em Angola Posted by Hello

quinta-feira, junho 09, 2005

RAÍZES DA MULEMBA DE SIMULAMBUCO


Raizes da Mulemba Posted by Hello

OS SEGREDOS DA MULEMBA

Reza a história que a Rainha Ginga ou Nzinga Mbandi Ngola, a Rainha de Matamba e Angola, baptizada por missionários católicos com o nome de D. Ana de Souza (1587-1663), chegou a acampar sob uma lendária figueira africana chamada de “Mulemba-Xangola”, ainda, existente a cerca de treze quilômetros a leste de Luanda, perto das instalações do atual Observatório Astronômico da Mulemba. Também, dizem que os marcos “geodésicos” dos limites territoriais concedidos pelo Rei N’Gola a Paulo Dias de Novais eram mulembas (ou nsandas, em kikongu). Também, foi sob uma nsanda que se realizou a assinatura do célebre Tratado de Simulambuco, entre o representante do Rei de Portugal e os Príncipes e Governadores de Cabinda, em que estes colocaram os povos do enclave cabindense sob o protectorado da coroa portuguesa.

Estas figueiras africanas são árvores muito frondosas, são constituídas por vários troncos regenerados e fundidos uns nos outros, muitas vezes, com as raízes estendendo-se acima do terreno, podendo ter um perímetro de mais de seis metros e atingir uma longevidade centenária. Portanto, não é de admirar que os
manis[1] do Kongo e os sobas[2] do Ndongo fundassem à volta delas os seus povoados, pois as culturas africanas tradicionais atribuíam às mulembas um caráter sagrado, por incorporar os espíritos da terra. Dizia-se que era à volta destas árvores e sob a bênção da sua sombra, que as pessoas se compreendiam no mais íntimo do seu ser. Para o africano, de modo geral, a árvore estabelece uma real comunicação entre o subterrâneo, a superfície terrestre e as alturas celestiais. É como que uma garantia que não existe qualquer obstáculo intransponível entre Kalunga[3] (abismo dos mortos), o mundo dos viventes e o paraíso da libertação dos Malunga[4] (espíritos santos de brancos e negros) e Kalungangombe[5] (ente espiritual que acolhe as almas).

A palavra mulemba é usada no kimbundu, a língua gentílica praticada na minha savana. No kimbundu, o nome da figueira sagrada é associado comumente ao verbo ku lemba, que é sinônimo de escurecer ou ensombrar. Realmente, é costume dos africanos procurar a sombra de uma árvore para a introspecção individual ou para a troca amena de idéias, geralmente, histórias e adivinhas, através de um bate-papo, ou seja, daquilo que no kimbundu se chama
sunguilar[6], por isso, também é chamada à figueira africana a “mulemba das discussões”.

Talvez, por inspiração sobrenatural, os primeiros
mindele (plural de mundele[7] – homem branco, no kimbundu) foram atraídos pelo caráter sagrado de uma mulemba, para demarcar em volta dela a praça central da décima ilha açoriana plantada na savana. Do lado poente, foi erigida a igreja e a sul, a Casa do Divino Espírito Santo. Era a primeira manifestação desatenta de sincretismo entre a mais rígida fé católica apostólica romana e o animismo africano; era a prova material de que a mão de Nzambi[8] (Deus) está sempre ao leme dos mais bem intencionados atos humanos; era a Unicidade Divina a decretar a Unidade de todas as religiões ou rituais, como prova de que estes foram inventados pelos triviais humanos para agradar a Suprema Misericórdia, à sua restrita maneira.

Aos domingos, revelava-se mais intensamente a aura atrativa da mulemba. Os ilhéus iam chegando, atraídos por ela, confiavam-lhe as suas bicicletas ternamente encostadas uma a uma, para formar uma roda de múltiplas rodas centripetamente dispostas. Logo, se seguiam os abraços e apertos de mãos fraternalmente impostos pela saudade de uma semana de separação e isolamento no árduo trabalho de domar a savana. Sob a bênção frondosa daquela figueira sagrada animavam-se as “cavaqueiras” recheadas de termos ilhéus, que nada ficavam a dever ao sunguilamento da nova terra que os adotou como filhos.

Tudo isto eu observava detidamente, dos três aos oito anos. Como menino da savana, não entendia por que aqueles brancos gostavam de ficar conversando animadamente debaixo da mulemba. Apenas, entendia que falavam de negócios, os mais velhos, ou das meninas prendadas, que permaneciam à distância na entrada da igreja, os mais novos.

Até, o barbeiro Badaluke (Rafael, o nome de batismo) aproveitava a sombra da mulemba para tosquiar as cabeças dos ilhéus, nada afeitos ao elaborado esmero do penteado. O nome Badaluke era a corrupção, na interpretação do povo Kimbundu, do nome da terra de nascimento do barbeiro - Guadalupe, na Ilha Graciosa, Açores. Ele ia cortando os cabelos com a mesma velocidade em que costumava levar o seu veículo de transporte, que percorria a picada da fazenda ao povoado sem pegar um só pingo de lama na época das chuvas mais intensas. Só assim ele podia transformar-se no depositário mais fiel de todos os segredos de negócios e alcova que os seus clientes lhe iam confiando em voz cantada. Também, só com tal paciência de Job e tão grande moleza bovina, o Badaluke conseguia aparar o cabelo e o bigode do Aurélio Kapakeia, que recebeu este segundo nome dos indígenas por tremelicar a cabeça para um lado e outro, tal qual o pássaro homônimo. Os ouvidos e o cofre de segredos do Badaluke só eram ultrapassados pelos da mulemba, pois ela era depositária fiel duma história ancestral, muito anterior à chegada do barbeiro. Foi ali no meu silêncio perscrutador que consegui ouvir um ilhéu, que se tinha por muito sábio nos negócios, falando de que os seus sonhos de sucesso material passavam por uma cuidada criação de galinhas poedeiras, para grande contrariedade e indignação dos que divinizavam a supremacia das vacas leiteiras. Outras histórias revelavam uma coragem caricata de caçadores rapidamente adaptados ao enfrentamento das maiores feras da savana, como encarar “leões com cornos” ou, perante duas onças, “apontar o farolim de cabeça para uma e atirar de espingarda para a outra”. Tudo a mulemba ouvia e abençoava, pacientemente. Oh, paciência africana!

Certo dia, em seus cinco anos, o menino da savana e o seu mano Zeca avistaram um monandengue mumbundo (menino negro), todo vestidinho de sarja branca, tão alva de neve, e com uma fisga ao pescoço que lhes atiçou a cobiça. Eles perseguiam grandes sonhos de caçadores de siripipis, viúvas, bicos-de-lacre e outros pássaros, pousados sobre a mulemba, e, por isso, nada melhor do que um novo amigo... E, já com uma fisga bem produzida e calibrada!... Aproximaram-se e o diálogo correu solto, como convém a mentes infantis destituídas de preconceitos. O menino nativo, com cerca de 10 anos, se chamava João Eduardo e disse que estava à procura de emprego. Partimos com ele rumo a casa, já admitido ao serviço, conforme comunicamos sem tolerar contestações ao “Capitão da Malta”. Aqui, vocês ficam a saber que me refiro à minha mãe. O João Eduardo ficou com a incumbência de nos acompanhar nas traquinices de monandengue, nas idas à escola e à missa, na realização das tarefas escolares e de catecismo, sempre se comportando como um “mais-velho” bem ajuizado e interessado, para contrabalançar a irresponsabilidade dos “mininos” mindele. Não é de admirar que o João logo fez a quarta classe na escola, assumiu a vontade de se baptizar e de assumir responsabilidades de homem adulto... Onde está ele agora?... Certamente, pensando saudosamente no que nos une, não obstante o tempo, a distância e as guerras que matam o corpo e não matam a alma...

Quando regressei à savana, em 1966, depois de ser obrigado a passar cinco anos no arquipélago das nove ilhas, perdido no meio do Grande Mar Poente, foi com olhar deprimente que constatei que a mulemba central estava em adiantado e irreversível estado de seca e morte. Já ninguém se acolhia sob ela, nem para encosto das bicicletas ela servia. Ela estava devotada a um ingrato desprezo. Fazendo uso da sua linhagem sagrada, ela queria avisar profeticamente os homens da desgraça que viria em poucos anos, todavia eles não lhe prestavam qualquer atenção. Efetivamente, o prenúncio da mulemba se realizou a partir de 1975.

Só hoje, em 02 de outubro de 2003, com 50 anos, o menino da savana consegue entender o recado profético da mulemba e, por isso, escreve:

O AVISO DA MULEMBA

A mulemba era tudo
Naquele povoado de gente pioneira:
Apoio silente, confidente,
Desde papo sisudo
A conversa maneira.
Sob sua copa frondosa,
Rolavam em polvorosa
Conversas sobre
kumbú
[9]
E negócios de vida amorosa,
Em que o tu era eu, e o eu virava tu.
Mas, um dia, as folhas caíram,
Secaram, e os ramos partiram,
De tanto que murcharam,
De tão secos que ficaram...
Era o prenúncio da má sorte,
Da morte,
Da guerra,
Da diáspora de brancos e negros “sem-terra”.
Assim, foi o fim
Duma história de glória...

Lúcio Huambo
Florianópolis, 02/10/03

Até mais ver!
Kabiá-Kabiaka,a quem o meu pai resolveu denominar tão eruditamente, em meio às etiquetas e respeitabilidades das suas vacas leiteiras, na savana do Catofe, de Lúcio Flávio da Silveira Matos.

[1] Régulo africano do antigo Reino do Congo, ao norte de Angola.
[2] (Plural jisoba). Chefe local (termo kimbundu).
[3] Mar, abismo; termo também utilizado no sentido de morte, firmamento ou mundo dos mortos (t. kimbundu).
[4] (Santo de) – (termo kimbundu, plural de dilunga). Espíritos de indivíduos de raça branca ou negra que se revelam por simpatia e isoladamente, em lugar apropriado.
[5] Ente espiritual que acolhe as almas dos mortos no outro mundo (t. kimbundu).
[6] Passar a noite a conversar, geralmente a contar histórias ou adivinhas (t. kimbundu).
[7] (Plural mindele). Homem branco. Há várias explicações para a origem da expressão, mas predomina a inclinação para a tradição que relaciona os europeus com os espíritos dos antepassados (ndele, plural jindele), de cor branca (t. kimbundu).
[8] Deus (t. kimbundu, comum à generalidade das línguas bantu).
[9] Dinheiro (Do termo kimbundu ukumbu, vaidade).

MULEMBA DE SIMULAMBUCO


Mulemba de Simulambuco Posted by Hello

MUKANDAS DO KABIAKA: À GUISA DE PRÓLOGO...

Eu já sabia que um dia ia cair nesta!...

Mas, por que cargas de água?

Não se trata de fazer periodicamente um exercício de erudição ou intelectualidade, pois, quanto a isso, estou totalmente de acordo com Nietzche:
“mudei-me da casa dos eruditos e bati a porta ao sair”. Ainda, concordo com ele quando afirma que os eruditos ou intelectuais são gente treinada em “buscar o conhecimento como especialistas em rachar fios de cabelo ao meio”. Como dizem os brazukas, “não tenho saco para isso”...

Ó gente, eu sou do mato! Eu nasci no Huambo, no planalto central de Angola, na Fazenda Quissala, bem do ladinho do Forte, a 1710m de altitude, e fui criado na savana do Catofe, no centro do Kuanza Sul, a 1200m de altitude, a 350 km de Luanda na direção do Huambo (ver mapa, abaixo), em meio às vacas leiteiras que os açorianos ou
“solianos” – na transliteração do Kimbundu – consideravam quase sagradas e queriam ensinar a falar em português ilhéu nasalado e cantado como as ondas que fustigam os calhaus basálticos das Ilhas do Mar Poente, mais exatamente, da ilha de S. Jorge, sim, aquela que é conhecida como o “paraíso das mulheres, o purgatório dos homens e o inferno das vacas”... Para não perder o fio à meada, eu explico depois a razão desta expressão. Talvez, pelo que eu disse antes, eu faço questão de usurpar, para serem totalmente minhas, as palavras do criador de Zarathustra: “Amo o ar sobre a terra fresca. É melhor dormir em meio às vacas que em meio às suas etiquetas e respeitabilidades”. Portanto, não pensem que eu vou aqui “puxar o saco” de alguém, ou vou sentir maior admiração por quem puxa o meu, ou vou expressar raiva por quem vai chutar o meu dito cujo... Aqui, será uma tribuna de respeito, séria, mas não exageradamente, pois não tenho vocação para “salamaleques”.

As minhas letras neste quase-diário serão apenas reverberações dos meus pensamentos sobre a arte do possível, que procuro exercitar no dia-a-dia, tentando criar novas possibilidades para transformar a vida, a minha e a de todos os que já entenderam que o segredo do sentido da vida reside no amor e na paixão por algo, pelo que se faz. Sim, é verdade, como lembra Rubem Alves,
“o amor e a paixão não anseiam pela aposentadoria, porque são eternamente jovens”. A história da humanidade não registra, até ao momento, a reforma ou aposentadoria dos que procuraram viver apaixonados, de Miguel Ângelo, Picasso, Jorge Amado, Fernando Pessoa, etc.

Assim, o que eu escrever apenas é um pálido espelho do meu amor e paixão pela minha vida, do passado ao presente e, quiçá, futuro que imagino; é uma introvisão das cavernas da minha alma de
inhameiro, muangolê, tuga e brazuka, vertida em declarações de amor e paixão pelas minhas raízes e vivências açóricas, em meio ao Mar Poente ou à savana, pela minha angolanidade que teima em se expressar longe de Angola e pela minha maturidade brasileira perenemente enfeitiçada. Cometo algum sacrilégio e agrido a veia ultranacionalista de alguém se disser que me sinto “luso-açórico-angolano-brasileiro”? Se alguém disser que isso não existe, eu lembro que Fernando Pessoa profetizou que o futuro dos portugueses “é ser tudo”... Por isso, eu sou toda essa miscelânea, qual futura torre de Babel emergente em carne viva e pensante... Escreverei sobre o tudo e o nada, filosofia, educação, espiritualidade, política, poesia, história e... Sei lá que mais? Uma coisa é certa, aqui, não haverá lugar para a baixaria, calúnia, difamação, boataria; a crítica, embora sem ser pessoalizada, certamente, estará presente – às vezes, terei que parar de escrever para secar com a mão o veneno que babarei pelos cantos da minha boca. Afinal, como humanista inveterado, acredito que as pessoas são essencialmente boas e que, mesmo, quando muito imperfeitas e erradas, são sempre perfectíveis, se desejarem assumir essa opção, a qualquer momento.

A terminar, porquê KABIAKA? Assim, me apelidaram na infância os
Kibalas, eles mesmos, aqueles que trabalhavam para o meu pai, brincavam comigo e me ensinaram a comer salalé e a pegar as mais perigosas cobras, desde a mais tenra idade. Kabiá-Kabiaka é o bicho cabeludo que deixa a mão inchada aos que o tocam. Eu acho que as minhas travessuras de kandengue, com menos de seis anos, deixavam alguns adultos bastante incomodados, principalmente, o mais-velho Kimbaça, quando eu puxava a mangueirinha da gasolina para esvaziar o tanque da motorizada dele, ou o mais-velho Angélica, quando eu enchia de gravetos as narinas dos seus leitõezinhos, para grande desespero e chiadeira das criaturinhas... Tinha mesmo que virar engenheiro civil, já que bastavam o meu irmão veterinário nato e o meu pai ganadeiro incorrigível para se interessarem, lá em casa, pelo suave odor de vacas leiteiras e outros bichinhos não menos esquisitos e cheirosos... Aliás, na minha família, todo o mundo é louco (leia-se 'maluco esclarecido') ou idiota (leia-se 'cheio de ideias') e cada qual tem a sua maluqueira ou idiossincrasia, conforme o caso.

Até mais ver!

Kabiá-Kabiaka, a quem o meu pai resolveu denominar tão eruditamente, em meio às etiquetas e respeitabilidades das suas vacas leiteiras, na savana do Catofe, de Lúcio Flávio da Silveira Matos.

ANGOLA


Mapa de Angola Posted by Hello

CATOFE (1)


Catofe em África Posted by Hello

CATOFE (2)


Catofe em Angola Posted by Hello

CATOFE (3)


Região do Catofe Posted by Hello
Nota: O ponto amarelo, 15km a norte, no cruzamento de várias estradas, corresponde à Quibala.

AÇORES


Mapa dos Açores Posted by Hello

SANTA E BELA CATARINA


Santa Catarina Posted by Hello

RODEANDO O ATLÂNTICO


Histórias que rodeiam o Atlântico... Posted by Hello