quarta-feira, novembro 26, 2008

A ÁGUA QUE VEIO DE CIMA...

Dizem os blumenauenses que viveram as grandes enchentes de 1983 e 1984, quando o Rio Itajaí Açú se elevou 17m acima do seu nível normal, que “tirariam de letra” esta enchente de 11,54m, ocorrida na madrugada de 24/11/2008. Após, aquelas enchentes foram instalados dispositivos de telemetria em vários trechos do rio, em Blumenau e a montante, que permitem antever com uma antecedência mínima de seis horas os níveis de cheia e gerenciar gradativamente a remoção temporária de veículos, móveis e outros pertences para lugares de topografia mais elevada...

O problema é que desta vez o maior volume de água veio sob a forma de uma cachoeira que se abateu de forma imprevista e muito concentrada sobre o Médio Vale do Itajaí, e despejou a pluviometria de 426mm em dois dias – 23 e 24/11 – o que corresponde a 3 vezes o máximo já documentado no mês de novembro. Realmente, chover em apenas dois dias o triplo do que normalmente chove num mês soa como um terrível castigo dos deuses...

A terra mais superficial virou uma corrida de lama, grandes volumes de solo das encostas dos morros deslizaram e arrastaram vegetação e construções que pareciam fundadas solidamente... Resultado: um autêntico caos com ruas interrompidas, bairros e comunidades isoladas e muitas vidas soterradas... Até ao momento, foram contabilizados 21 mortos em Blumenau e cerca de 10% da população urbana desalojada... A primeira ordem é para resgatar por helicóptero os famintos, feridos e doentes que lutam isoladamente pela sobrevivência... Com o restabelecimento das comunicações terrestres vem a remoção e reconhecimento dos soterrados, cujo número não está totalmente mensurado... Ainda, há desaparecidos...

Como maior vitória tem se apresentado a solidariedade espontânea da população de Blumenau, que supera largamente a insuficiência e desorganização do poder público municipal, estadual e federal para enfrentar o desafio de fazer voltar a normalidade, o que certamente só acontecerá pelo Natal, embora o sabor da respectiva ceia não seja lamentavelmente igual para todos os que habitam esta bela cidade-jardim!

Os vídeos dão uma idéia do que as minhas palavras não conseguem descrever...

Um grande abraço do Kabiá-Kabiaka




segunda-feira, novembro 03, 2008

O ÓPIO DO POVO E O DOS INTELECTUAIS

Um dia Karl Marx (1818-1883) proclamou que “a religião é o ópio do povo”. Em nome dessa máxima divisa, os marxistas-leninistas cometeram imensos desvarios e atrocidades, que podem ser contabilizados em milhões de vidas e valores perdidos ingloriamente. Os angolanos que o digam, agora, que o tão decantado Poder Popular já pertence às calendas gregas, embora certo partido mostre imensa nostalgia do tempo em que dizia que ele era o povo e o povo era ele!... Slogans não enchem a barriga de ninguém, quiçá, ainda, sirvam para ganhar eleições mediante propagandas de marketing bem delineadas que soam muito bem aos ouvidos de quem ainda lê muito pouco e, por isso, não tem possibilidades de analisar criticamente todo o que ouve...

Mais perto do nosso tempo, o filósofo francês Raymond Aron (1905-1983) disse que “o marxismo é o ópio dos intelectuais”. Realmente, os intelectuais marxistas assumem uma Aura de onipotência e infalibilidade, porque ficam cônscios de deter o saber maior que orienta “o fim da história”, da suprema evolução da Humanidade que decretou a “morte de Deus”, ou melhor, de todos os deuses, exceto eles próprios – os marxistas. Eles são a personificação do Super-Homem pregado por Nietzsche, com a inigualável função de orientar a sociedade do seu elevado trono de intelectualidade com sentido redentor. Claro que uma ideologia assim exerce um fascínio irresistível sobre os intelectuais, pois hes permite assumir uma perspectiva de poder, influência e prestígio que não seria conferido pelo mero compromisso com a defesa das liberdades democráticas.

Esse fascínio por assumir o papel de Vanguarda é algo que se vislumbra facilmente no brilho dos olhares dos intelectuais marxistas, quando dissertam orgasticamente sobre as suas idéias que já se mostraram totalmente falidas na prática, pois levaram às ditaduras mais brutais que se conheceram no século XX, nos tempos gloriosos dos governos leninistas, stalinistas e maoístas, inclusive, em África.

No caso particular de Angola, a esquerda intelectual ainda defende um aparelho partidário que controle os meios estatais para mais facilmente alcançar benesses materiais individuais e de grupo e os seus fins ideológicos falidos, confundido estado com governo e partido, em desfavor de um povo cada vez mais marginalizado, socialmente, bem ao contrário da verborragia socializante que a elite dominante apregoa. Como dizia um ex-trotskista: “intelectuais que elogiam governos têm algum problema; provavelmente, querem um emprego”. Essa assertiva pode ser facilmente comprovada na nossa terra...

Um grande abraço do

Kabiá-Kabiaka.