domingo, abril 12, 2009

QUEM TEM RAÇA É CACHORRO!


O Brasil é o país onde a maioria da população, ao ser perguntada sobre a sua cor, responde simplesmente:

"Moreno".

A resposta sugere que o grosso da população brasileira não tem a certeza sobre a cor da sua pele, nem se interessa em sabê-lo, porque não considera isso muito importante; todavia, o atual governo federal esmerou-se em parir uma ideossincrasia com a criação de um órgão ministerial com o título pomposo de "Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial", para gáudio dos amigos a quem arranjou mais uns encostos empregatícios no aparelho estatal, e estupefacção ou apreensão dos opositores, e brasileiros em geral, que têm assistido à criação do racismo por via institucional num dos países menos racistas do mundo, ou, com toda a certeza, muito menos racista do que os países onde o atual governo brasileiro tem buscado inspiração para as suas desastradas medidas de "Ação Afirmativa".

Assim, o chefe do governo na sua costumeira verborragia comicieira, que encanta os seus mais diletos apaniguados, tem culpado genericamente a "elite branca" nacional pelos males do país e a "gente de pele clara e olhos azuis" dos países do norte pela recente crise econômica mundial, esquecendo que os acusados também são os principais agentes do desenvolvimento brasileiro e mundial. 

Enquanto a demagogia corre solta, a sua inútil "Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial", apenas, se destacou pelo uso indevido do cartão de crédito corporativo em compras de "Free-Shop", em aeroportos, ou no "Bar Amarelinho", no Rio de Janeiro, em benefício de uma secretária-ministra já demitida. Também, as leis aprovadas no Congresso Nacional visam objetivos exatamente contrários dos que dizem pretender atingir, isto é, criam "cotas raciais" que conferem a pretensos brasileiros negros - deixando exclusivamente a estes o direito de se definirem como tal - privilégios no mercado de trabalho, universidades e concursos públicos, em detrimento dos brasileiros que se definem como brancos ou ameríndios.

O advogado negro José Roberto Militão chegou a escrever no jornal "O Estado de S. Paulo":

"Os defensores das leis raciais ludibriam a boa fé alegando que cota racial é ação afirmativa. Ação afirmativa, de fato, é outra coisa: é a efetiva atuação da autoridade para coibir a discriminação contra minorias e multiplicar oportunidades, sem criar cotas, exigir reparações pelo passado ou restabelecer diferenças de direitos. Ao Estado cabe atuar para destruir a crença em raças. Leis raciais não servem para a redução das desigualdades entre brancos e pretos, pois atacam os efeitos, mas aprofundam as causas".

Depois do esclarecimento sábio do Dr. José Militão, um dos potenciais beneficiários das leis raciais do atual governo, concluimos que essas iniciativas induzem ao perigo de se passar da "distinção" à "divisão", o que está na contra-mão da integração harmoniosa das múltiplas origens da população brasileira.

Para concluir, nada melhor do que a frase do escritor baiano João Ubaldo Ribeiro: quem tem raça é cachorro!

Um grande abraço do Kabiá-Kabiaka

3 comentários:

Lúcio Flávio da Silveira Matos disse...

Kimbanda Manuela (k.M.), obrigado pela sua participação num assunto tão polémico!
Uma coisa eu sei: a montra brasileira é mil vezes mais miscigenada, isto é, com mais melanina do que a portuguesa, porque tem ministro preto, mulato, ameríndio e branco...
Agora, quanto à montra portuguesa, coitada, mantém a hipocrisia e cinismo dos tempos do Portugal Pluricontinental e Multirracial... Lembram-se?
Eu lembro do tempo em que até branco nascido em Angola era considerado "branco de segunda". Talvez, por isso, Angola nunca teve um governador geral natural de Angola, nem branco, quanto mais preto. Para não falar do Estatuto do Indigenato que atribuía aos negros o benefício máximo de "Assimilado". Só com a guerra colonial de 1961 houve uma mudança de fachada, bastante hipócrita e cínica, diga-se em abono da verdade. Além de que Portugal foi o último país europeu a aceitar a abolição da escravatura nas suas colónias, principalmente, no Brasil.
Mais, ainda, Portugal implantou por cá o seu tradicional "aproxima-te mas não evoluas", algo diferente do anglosaxónico "evolui mas não te aproximes". Entre os dois, venha o diabo e escolha! Destaque-se que o Brasil Colónia foi a última colónia europeia da América Latina a ter implantada uma universidade, mesmo assim, foi preciso o Rei de Portugal vir para cá corrido pelas tropas napoleónicas... Quem não lembra?
Um grande abraço do Kabiá-Kabiaka.

Soberano Kanyanga disse...

Depois e dez anos com a raça no Bilhete os angolanos livrar-se-ão do qualificativo (pelo menos a olho nu deixará de ser visto esse elemento no Bilhete de Identidade). De fora fica tb a expressão VIP atribuída aos Governantes (até nos B.I.).

Lúcio Flávio da Silveira Matos disse...

Isso é um grande avanço para a harmonização da sociedade angolana, meu admirado Luciano. Pode ser que alguém pense que os rótulos étnicos não fazem muita diferença, mas a realidade histórica angolana já demonstrou que eles atrapalham mais do que ajudam...
OBRIGADO pela tua participação e um grande abraço do Lúcio Flávio/ Kabiá-Kabiaka.