DO QUE VAMOS TRATAR
“A nossa pequena glória é responder à grandeza do que foi grande”– na sua humildade – “e morrer com o valor surpreendido entre os escombros”...
Do S. Jorge do Catofe crismada, como se refere no capítulo anterior, a “Décima Ilha dos Açores”.
É a pequena estória, autêntica ou romanceada, no fundo verdadeira, da brava gente açoriana – na maioria jorgense – rija e trabalhadora, casca grossa e lúdica, de falas mansas e entusiasmos comedidos, joeirada – “como quem não quer a coisa”– no verdejante, misterioso e intimidante mato angolano. Nos muitos vales, planaltos e encostas, enquadrados pelo rio Catofe e seus muitos afluentes, até ao rio Nhia (Ñya), a poente, encaminhando-se para o rio Pombuíge (Phumbwiji), a norte e nascente. Atravessados pela estrada de Luanda – a 360km – ao Huambo – a 240km. No Sub-Planalto de Benguela, cerca de 1360m de altitude, à distância média de 200km do oceano Atlântico. No concelho de Quibala, uma vila a 15km, distrito de Cuanza Sul, da então Província de Angola.
Claro que, principalmente nos primeiros tempos, o clima se mostrou adverso por ser muito diferente das ilhas açorianas. Na região do Catofe, como em toda Angola, o clima contempla duas estações: a das chuvas (nvula, no dialeto Kimbundu dos Kibalas), que dura aproximadamente 9 meses – setembro a maio – e a temporada seca conhecida como cacimbo (kixibo), de 3 meses – junho a agosto. Esta periodicidade, por vezes, variava mais em detrimento da estação chuvosa, com o prolongamento do cacimbo. A estação seca se apresentava sempre exasperante para o homem açoriano que só vivia da agropecuária. No cacimbo não caía do céu uma só pinga de água; valia a água dos riachos e rios que nunca secavam, embora ficassem com caudal bastante diminuído, e as medidas preventivas adotadas nas “chuvas” como a sementeira de milho, forrageiras e outros alimentos para o gado, normalmente, reservados por ensilagem ou outras estratégias. Outra dor de cabeça trazida durante o cacimbo aos agricultores açorianos do Catofe era o hábito cultural dos indígenas realizarem queimadas – uximika mwíôzo – do capim seco para afugentar os animais silvestres durante as suas campanhas de caça coletiva, sob a orientação do “soba” e/ou dos “mais velhos” de cada comunidade. Por incrível que pareça, o animal mais caçado durante as queimadas do cacimbo era o rato monteiro, abundante na região e muito apreciado pelos autóctones.
A maior adversidade da estação das chuvas era sem sombra de dúvidas o paludismo ou malária, devido a uma maior proliferação de mosquitos transmissores. Trata-se de uma doença infecciosa que origina arrepios de frio, tremores, sudorese, fadiga, dores cíclicas de cabeça e febre alta, o que pode causar até a morte. Contra ela ainda não há vacina, por isso, foi a maior responsável pela mortalidade por doenças em 2018, em Angola, segundo informações da imprensa.